The Legendary Flower Punk - Zen Variations (2016)



É de uma das mais belas cidades desta nossa esfera suspensa no vazio que nos chega este disco que remonta já a 2016. Eles são de São Petersburgo, e o nome até pode enganar. The Legendary Flower Punk têm zero de Punk na sua matriz. A conjugação da diversidade de músicos e influências pode um dia elevar os TLFP à condição de lendas.. quiçá. A mim já me marcaram.


Kamille Sharapodinov não é novato nestas andanças do experimental-folk-psicadélico-progressivo-whatever. The Grand Astoria e Organic is Orgasmic, foram as anteriores mas não inacabadas aventuras musicais para o guitarrista e vocalista, onde essencialmente era ele quem compunha todo o material. E é aqui que a história se torna interessante, com os lineups destes projectos a fundirem-se com o tempo nos The Legendary Flower Punk. Mas esta banda é bem mais do que aqui já foi dito. No cerne há ainda Mike Lopakov no baixo e Nik Kunavin na bateria, e outros mais, que não sendo anónimos, são demais para enumerar um a um. Eles vão e vêm, emprestando trompetes, saxofones, sintetizadores, teclados, instrumentos tradicionais e por aí fora, que de jam em jam ajudam a dar corpo e segurança às músicas.

Em 'Zen Variations' podes ouvir um pouco de tudo, verdade seja dita. Jazz, Rock, Krautrock, Funk, Psych, Prog e por aí.. sempre com a dose certa de experimentalismo. As composições são todas elas meticulosamente construídas e articuladas, encontrando no virtuosismo dos músicos a fundação para uma consistência que se estende do início até ao fim do disco. 'Earthquake Zen' dá o mote para o que podes esperar das variações zen. Confesso que a primeira vez que ouvi este tema, foi como ouvir um eco do passado e longínquo ano de 69': ressoava lá trás o Soul Sacrifice do Santana. Entenderão assim que ouvirem. Segue-se 'Urban Zen', uma variação guiada pelo baixo e guitarra através das paisagens que caracterizam o álbum até atingir um clímax cacofónico e dissonante. Mudança de tempos por breves instantes em 'Party Zen'. É a festa privada dos sintetizadores e moduladores que lembram pedaços do Dark Side of the Moon. 'Subway Zen' é feita de melodias que se demoram e teimam em ficar connosco. Já 'Warfield Zen' é uma das verdadeiras malhas deste disco. Junta-se um baixo poderoso (à la Flea), uma guitarra suja q.b. embebida em funk (à la Frusciante) e ainda uma secção de sopros lá pelo meio, e puum... zona de guerra. Passada a guerra, eis que chega a paz em 'White Magick Zen'. Pessoalmente, talvez a melhor e mais cativante faixa deste trabalho. Elegante, dreamy, distorcida e pujante quando deve ser.. tem na sua génese uma melodia que não te vai sair da cabeça. A banda brinda-nos com 'Christmas Zen' para terminar em beleza, num leve aceno que não é um adeus, mas sim um até já. Fãs do progressivo britânico mais melódico do antigamente, (também do agora, nunca esquecer o génio de Steven Wilson) vão adorar este tema, na certa. Como fechar um disco com chave de ouro? Eis a resposta nestes oito minutos e vinte e sete segundos de magia em forma de notas longas.

Mais do que um disco que é um must hear, The Legendary Flower Punk é uma banda a seguir. Sem dúvida. Impressionam ao vivo também. Tive oportunidade de os ver no intimismo do Club de Vila Real, algures no verão do ano passado e, diga-se, que no fim tive que apanhar pedaços do meu cérebro que se haviam espalhado pelo chão. Eles que poucos dias depois se apresentariam na Figueira da Foz, no WoodRock Festival. Se tiverem oportunidade de os ver algum dia, não hesitem. Se ficaram curiosos, ouçam-nos aqui em baixo. Apoiem-nos, também. 

Um bom resto de fim de semana. Boas Notas Longas.

From Russia, with love

rafael silva




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