Jumanji: Welcome to the Jungle

Jumanji...
Quando se diz este nome a primeira sensação que vem a memória é de felicidade. Adorei o filme original de 1995. Uma história tão boa que aborda temáticas tão recorrentes como a perda dos nossos entes queridos e a superação pessoal e emotiva dos orfãos Judy e Peter Sheperd, interpretados pelos adolescentes Kirsten Dunst e Bradley Pierce, a deslocação da realidade pela parte do Alan Parrish, interpretado brilhantemente pelo falecido Robin Williams, a loucura, encarnada pela Sarah Whittle, interpretada pela Bonnie Hunt, enfim várias temáticas pesadas que são focadas, tudo enquanto eles jogam o jogo de tabuleiro, o Jumanji, que em cada casa do tabuleiro desperta uma nova ameaça que só desaparece quando eles acabarem o jogo. No final este filme deixa-nos felizes, pois tem um final feliz. A maneira como o enredo se desenrola faz-nos lembrar as histórias de La Fontaine, escritor de fábulas, onde através de enredos normalmente relacionados com animais tem uma lição gigante para nos ensinar.

Este novo Jumanji, intitulado de Jumanji:Welcome to the Jungle retira isso tudo.

Nesta versão da história, quatro adolescentes, Spencer e Fridge que foram melhores amigos enquanto eram mais novos,e entretanto afastaram-se, Bethany a típica rapariga popular e a Martha, a rapariga estudiosa que se foca só nas notas, estão em detenção na escola e, encontram um jogo para SNES chamado Jumanji, iniciam o jogo, são transportados para dentro do jogo e tem que o acabar senão morrem.
Começando pelos aspetos positivos.
A nível visual o filme está muito bem trabalhado. As sequências de acção estão muito realistas e sentimos a aflição das personagens nesses momentos onde tem que ser quase sobre-humanos para as superar.
A banda sonora é espetacular, nem tenho muito a dizer mais. Para além das músicas cujos os direitos foram comprados serem incríveis, a banda sonora foi composta por um compositor que tenho em alta consideração pelo seu bom trabalho, que é o Henry Jackman.
O elenco é ótimo. Dwayne "The Rock" Johnson, que faz de Spencer no jogo, é um ótimo ator de acção, extremamente carismático.
Kevin Hart é um tipo que quando abre a boca cria riso no público.
Jack Black tem um humor físico tão bom.
A Karen Gillian, embora uma atriz moderadamente reconhecida na popularidade de HollyWood faz um ótimo papel.
Como se arruina este elenco?
Dá se um papel genérico a todos.
O facto de o Jack Black ser uma típica adolescente popstar e que diz coisas que as teenagers dizem mete piada nas primeiras três vezes que abre a boca. Depois cansa. Repetiram as piadas tanta vez que em vez de riso já ficava constrangido com vergonha alheia. Ainda lhe tentam dar uma plotline onde muda o seu elitismo mas parece tão forçado que ninguém se consegue relacionar com a mudança.
A personagem do Kevin Hart, o Fridge fica completamente desvirtualizada. Parecem duas personagens completamente opostas. Enquanto aluno é um típico gajo atlético muito controlado e no jogo é uma personagem que mostra um caráter completamente descabido e sem papas na língua, sim eu percebo que o Kevin Hart é um ator que se encaixa bem neste papel mas, foi uma mudança demasiado drástica para passar despercebida.
A Martha é um estereótipo ambulante. Aquela cena de miúda estudiosa muito awkward que de repente encontra a sua voz interior, já foi utilizada em tantos filmes mas tantos filmes que em momentos não sabia se estava a ver o Jumanji ou O diário da Princesa com a Anne Hathaway.
A personagem do The Rock também é um estereótipo. Um típico nerd que diz frases nerds, faz o trabalho de casa do pessoal, tem sempre o seu comentário de chico esperto para todas as situações que de repente do nada passa de medricas para o herói galante da história.
Tudo são personagens com um enorme potencial. Mas que foram mal utilizadas.
A história não evoca sentimentos no público, embora tenha uma premissa incrível cheia de momentos muito quotidianos que dariam uma história emocionalmente forte.
Vejamos, o conflito entre dois antigos melhores amigos de infância que com o passar do tempo passaram a ser meros conhecidos, uma situação muito recorrente no nosso dia a dia. Eu pessoalmente já perdi a conta do número de amigos que tenho que passaram de grandes amigos para conhecidos, por vários fatores, embora nós não queremos nunca que isso aconteça, acaba por acontecer inevitalmente para algumas pessoas. Este devia ter sido o ponto alto do filme. A reunião dos amigos.
Mas não.
O problema fica resolvido em questão de segundos. Éramos melhores amigos, já não somos. Já somos outra vez. Não há uma conexão forte na reunião, foi uma situação do acaso quase. Eu sei que estar numa situação de vida ou de morte aumenta e cria laços entre amigos e conhecidos, mas está muito superficial.
Sabem o que estragou esta plot line?
O romance chocho entre o Spencer e a Martha. Aquele romance é tão banal. É uma história tão reutilizada. O nerd. A estudiosa. Pelos poderes sayiajin juntam-se e transformam-se no casal perfeito.
O que não era mal pensado, até era bastante prevísivel, mas é tão superficial também. Opá, não dá para sentir a paixão entre os  dois. Este filme peca por ter uma narrativa fraca. Não deixa aquele quentinho dentro de nós.

A ideia de mostrar alguém preso dentro do jogo é incrivelmente boa, que é o que acontece com a personagem do Alex, interpretado pelo Nick Jonas (as raparigas com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos foram ver o filme por causa deste nome. Estou a brincar) para nos dar a perspectiva do que aconteceu ao Alan Parrish, que toda a gente queria saber como seria a vida dele em Jumanji, e até isso parece tão superficial também.
O vilão é genérico. "Sou mau porque controlo animais e quero o poder da esmeralda"
A missão é genérica "Têm que colocar a esmeralda no pedestal".
Acho que se o Robin Williams estivesse vivo não aceitaria entrar neste filme.

Pensamentos finais.
Se o novo Jumanji é um mau filme? Não é, de todo. É um ótimo blockbuster de acção com elementos cómicos, mas é de Jumanji que estamos a falar!
O que me entristece neste filme é de ver o potencial do filme de ser uma história incrível mas preferiram ir pelo caminho mais fácil e seguro, que é seguir a estrutura de vários outros blockbusters.
No final do filme a sensação que tive foi "Ok, que venha o próximo filme".
Se alguém me perguntar "Nuno, o que é o Jumanji?", não irá ser este o filme que vou mostrar mas o original, que mantém-se ainda hoje como um ótimo filme e sempre que passo no canal Hollywood e está a dar este filme dou por mim a vê-lo até ao final.

Mas esta é simplesmente a minha humilde opinião.

Até à próxima,
Abreijos,

Nuno Gabriel


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