The Graduate (1967) - Mike Nichols - com Dustin Hoffman, Anne Bancroft, Katharine Ross


"Dee dee dee dee dee dee dee dee dee dee dee dee dee
Doo doo doo doo doo doo doo doo doo
Dee dee dee dee dee dee dee dee dee dee dee dee dee"


Bom. Se calhar apenas com a transcrição literal do preâmbulo desta mais que famosa música de mais que famosa parelha de vozes, vocês não associem a nada em concreto. Mas e se eu acrescentar um apelido de uma senhora, uma tal de Mrs. Robinson? E que tal Simon & Garfunkel? Talvez já tenham soado os alarmes de familiaridade nessa tua cabeça. Sim, essa música. O porquê desta música estar em destaque? Continua a tua leitura e saberás.




Confesso que não me lembro do que me impeliu a encontrar este filme na Internet e a vê-lo. Ainda para mais uma comédia romântica -- é assim que o filme está categorizado. Visto de muito longe acaba por encaixar bem nos pressupostos desse tipo de filme de Domingo à tarde, mas a questão está em ver mais de perto. Talvez tenha sido o actor principal, Dustin Hoffman, e este talvez tenha sido o seu primeiro grande desempenho enquanto actor. Mas se quando mencionei comédia romântica sentiste o teu estômago revolto (ainda mais do que quando viste que o filme tem já 51 anos), desengana-te e força o teu cérebro a ler este texto até ao fim. 

Nomeado para uma série de Oscars e Globos de Ouro, arrecadou da Academia apenas o Oscar de melhor realização. Ganhou ainda Globos de Ouro para a anterior categoria, mas também o de melhor filme, melhor actriz, mais promissor actor, etc etc. No fim quem saiu a ganhar foi o mundo do cinema, com o lançamento de Hoffman para o estrelato. 

Romanticismos e pieguices à parte, a premissa deste filme não poderia ser mais actual, dada a altura do ano em que estamos: Maio. E Maio, entre muitas outras coisas, é o mês dos finalistas. É o mês daqueles que vêem o seu tempo de estudante e a sua juventude, na verdadeira essência da palavra, a escaparem-se ao de leve por entre os seus dedos... que por uma semana, ininterrupta e alegremente ajudam a segurar copos vários. Mas assim que o clima festivo e inebriante se esfuma, começa-se a avistar o que serão os últimos metros até à meta. Corta-se a meta. Chegam de todos os lados congratulações pela conquista e pelo esforço, o ocasional boa sorte aqui e ali... e infindáveis questões sobre o futuro. Ah... e expectativas que se desenvolvem em torno de uma pessoa. A verdade é que, o que muitas vezes acontece é haver mais perguntas do que respostas. E é totalmente normal.



 Gif de uma das cenas iniciais de "The Graduate"


É assim que nos apresentam Dustin Hoffman na pele de Benjamin Braddock, recém-graduado que com vinte e um anos se vê de regresso à sua terra natal na Califórnia. Recepção com direito a festa e tudo. Enquanto tudo isso acontece, são muitas dúvidas e inseguranças para com o seu futuro que pairam a tempo inteiro sobre a sua cabeça. Grandes feitos são esperados de Benjamin. As expectativas estão altas. O seu futuro começa agora, dizem-lhe, para logo de seguida lhe perguntarem... Perguntas. Mais perguntas. Tudo o que ele não quer que lhe perguntem. Pois ele apenas quer estar sozinho com os seus pensamentos. Tanto ruído não o deixa pensar.

Este é o cenário introdutório da trama, que a partir deste ponto aborda muito mais do que questões existenciais. São traçados vários retratos da sociedade, desde logo com foco nas falsas aparências de felicidade. Com o materialismo em plano de fundo, há casamentos frustrados, relações extra conjugais pouco convencionais e consequentes segredos, há máscaras que não podem cair... mas também há amores forçados e outros não correspondidos. No fim de contas, se a mente não estiver bem consigo própria, as coisas simplesmente não correm bem. Consequência desta soma de factores é a forma como a personagem de Benjamin Braddock foi construída, com todas as suas frustrações e humanidades, torna muito mais fácil o processo de identificação pessoal do público com ele. E é assim que o seguimos de perto até ao seu final feliz. Com a dose certa de clichés de histórias de amor a guiarem-nos pela história, acabamos por chegar ao fim com um sorriso nos lábios.



Gif de uma das mais míticas cenas de "The Graduate" que conta com Dustin Hoffman e Anne Bancroft


Mas há outro ponto digno de se mencionar sobre o porquê deste filme ser tão agradável de ver, e de certa forma até familiar. A verdade é que o cinema é mesmo uma arte que não vive apenas de imagens e diálogos. A música, mais do que complemento ao que nos é visualmente transmitido, consegue por si só contar histórias. É aqui que entram Paul Simon e Art Garfunkel, que emprestam as vozes e instrumentos à banda sonora de 'The Graduate'. Basicamente emprestaram e criaram alguns dos seus maiores clássicos, por todos conhecidos e reconhecidos, desde 'The Sound of Silence', Scarborough Fair' até 'Mrs. Robinson', que podes ouvir mais acima. Mais ainda, é bom poder associar à Mrs. Robinson que se faz referência na música uma cara em específico, a da actriz Anne Bancroft, personagem central do filme também. Agora, se o filme trouxe sucesso às músicas, ou se as músicas fizeram enaltecer o filme, é algo um pouco irrelevante. Completaram-se mutuamente.

Por tudo o que foi dito acima, acho mesmo que deves ver o filme. Tornou-se um clássico instantâneo na altura, e ainda hoje se apresenta actual. Em termos de realização, e tendo sempre em conta o já distante ano de 1967 em que foi filmado, tem de facto de haver muita arte e valor nas mãos e cabeça de Mike Nichols. O argumento, contrariando noventa e cinco por cento das comédias românticas já alguma vez feitas, é inteligente e bem escrito. A representação dos actores principais, especialmente Hoffman e Bancroft, é de ressalvar. Mais incrível é que as piadas do filmes acabam por estar também elas chapadas nas nossas próprias vivências, e nas vidas dos que nos rodeiam. Mas é por isso que tem piada.

De qualquer das formas recomendo que vejam o filme. Aposto que já perderam bem mais do que 1h 46min a ver filmes com o Hugh Grant, portanto não têm desculpa. Este tem Dustin Hoffman em grande plano. 

rafael silva


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