EXEK - Some Beautiful Species Left (2019)


Greetings everyone.

O domingo acordou para mim chuvoso e cinzento. E foi desta desta palette de tons de cinza que, enquanto atestava o depósito orgânico com cafeína, que a vontade súbita de escrever algo brotou. Daí lembrei-me de procurar por notas inacabadas - algo que pudesse finalmente ver a luz da internet. Daí até aqui foram meia dúzia de cliques.

É por volta do meio dia que começo a escrever esta Nota Longa. São 22.25 no outro lado do mundo, mais precisamente nos nosso antípodas: Melbourne.

É directamente dessa distante localidade australiana chegam aos vossos speakers os EXEK.

Desconhecidos para muitos de vós - acredito eu -, já há algum tempo que estava para escrever algo sobre eles. Digo isto enquanto penso no disco deles 'Ahed of Two Thoughts' editado em 2018, disco que apenas ouvi uma ou duas vezes. Lembro-me de ter gostado imenso, e ter ficado marcado na minha memória pois acabou a servir bem os meus gostos no que a este género em específico diz respeito. Ficou na lista para uma possível Nota Longa, com o post iniciado até... mas tal nunca chegou a concretizar-se.  Com 2019 quase em vias de terminar, e em prol da actualidade musical que se pretende que esta plataforma difunda, o mais recente trabalho dos EXEK parece ser o mais indicado para a presente Nota Longa. Eis que chegou o dia deles.

'Some Beautiful Species Left' é o presente que vos entrego hoje. Dado a conhecer ao mundo a 6 de Setembro, é algo também novo para mim, visto que apenas tive conhecimento dele hoje. Deste modo, não só não tenho uma opinião maturada sobre a banda, como o mesmo se aplica ao disco em causa. No entanto, uma primeira audição completa e desinteressada foi quanto bastou para querer sobre ele escrever algo. Dito isto, já alinhei numa segunda volta no carrossel dos EXEK, enquanto vasculho a internet por mais informação sobre quem serão estes aussies que tomaram de assalto a soundtrack do meu domingo.

É o auto-intitulado post-punk a bater-vos à porta. Deixem-no entrar .. ah, e subam o volume.

Mas.... Post-punk é porventura uma categoria demasiado abrangente, contudo é assim que os encontro definidos no seu próprio bandcamp. Diga-se que sou muito pouco conhecedor deste género musical mas, descontruindo um pouco a etimologia do nome, quanto ao punk - e aqui sou muito sincero: dispenso bem. Quanto à parte do post, já me agrada mais. Vai muito do meu gosto pessoal, é certo, mas tem muito que ver com o carácter de exploração sónica inerente à mistura com outros estilos que se verificou nos fim dos anos setenta. Mais synths, mais efeitos, menos power chords distorcidos e menos berros dilacerantes. Este é o post com que os EXEK nos presenteiam: trippy quanto baste, com melodias de baixo a conduzirem-nos para onde eles querem, com um toque transversal de modernidade e experimentalismo, que deriva muito dos synths e guitarras de vibrantes efeitos, ambos assimetricamente colocados ao longo das faixas para adensar a teia musical a que se propõem. Do que pude encontrar na literatura cibernáutica sobre o assunto, há quem lhes reconheça toques que dub e krautrock, mas deixo a atribuição desses catálogos ao vosso critério.

A tudo isto conseguiram ainda juntar baterias também elas processadas com efeitos, um meio de quebrar a monotonia rítmica em que se pode facilmente cair , mas muitos mais foram os instrumentos incorporados (o texto que acompanha o álbum no Bandcamp menciona até instrumentos de cozinha!) na edificação das canções presentes em 'Some Beautiful Species Left'.

Algo com que me identifico bastante, e por isso acho interessante e digno de denotar, é o facto da feitura deste álbum e das canções que o compõem, ter sido levada a cabo por completo em ambiente de estúdio. Com recurso à técnica de overdubbing, as canções vão ganhando camadas seguidas de camadas, que pela sua sobreposição revelam subsequentemente a sua forma e dimensão finais. Segundo li, esta abordagem criativa não é nova no contexto dos EXEK, sendo algo que é conhecido no meio como a filosofia de Brian Eno, filosofia esta que se revê na ideia de que o estúdio é também ele próprio um instrumento à disposição dos músicos e produtores, onde a criação acaba por se fundir com a gravação das músicas.




Unetiquetted, single do álbum 'Some Beautiful Species Left'.


O multi-instrumentista Albert Wolski, aquele que parece ser a força motriz do grupo, é quem empresta a sua voz e lírica aos EXEK. Voz e letras muito ao estilo de Syd Barrett, somos por vezes apanhados desprevenidos aqui e ali por instantâneos coros à la Connan Mockasin. Responsável por grande parte dos instrumentos que podemos escutar no álbum, Wolski faz-se acompanhar também por Andrew Brocchi nos sintetizadores, Sam Dixon nos ritmos de bateria, Ben Mackie no trompete e Jai Smith e Henry Wilson no comando das guitarras.

O resultado final é tão teatral quanto tenebroso em termos de atmosfera.  Posso dizer que a mim remete-me para cenários em que a acção se centra em teatros com marionetas e ventriloquismo. Essa estranheza, experimentalismo e folclore a que associamos a música dos EXEK, é o que retemos da primeira vez que o ouvimos. Mas também é o que nos faz voltar na segunda... Eu que o diga, que já vou na quarta! 

Peço-vos que escutem esta que é uma das mais bonitas espécies que ainda sobra... ou não. Dependerá do vosso gosto! Mas não esqueçam o nome dos EXEK. Ainda poderão vir a dar que falar.

Marcamos encontro na próxima Nota Longa,

até lá.

rafael silva


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