Há uns anos atrás apareceu um livro no mercado
que me despertou muito a minha atenção.
Em primeiro lugar porque era escrito por um
dos meus comediantes preferidos portugueses e em segundo lugar porque falava de
objetos, filmes e fenómenos que apareceram em Portugal nos anos 80. Este livro
era a "Caderneta de Cromos" de Nuno Markl.
Quando comprei o livro o meu pai disse-me o
seguinte "Epá, que gasto de dinheiro. Em primeiro lugar o conteúdo
deste livro está disponível na Internet e em segundo lugar, tu nasceste em 1994."
É verdade. Não cresci nos anos 80. Cresci no inicio dos anos 2000
(porque poucas memórias tenho da minha vida até aí), mas a minha avó tem uma
colecção de objetos dos anos 80 incriveís e neste livro percebi para que
serviam e a popularidade deles.
Este livro tornou-se a minha leitura diária de
casa de banho durante aproximadamente 1 ano. Li e reli este livro mais vezes do
que os meus manuais escolares em conjunto.
Quando o Nuno Markl anuncia a série 1986 pode-se
dizer que eu fiquei muito ansioso e entusiasmado pelo que aí vinha e comecei a
pensar. "Será que esta série irá ter uma forte componente narrativa ou
será que é uma caderneta de cromos na televisão?"
1986 não
poderia ter aparecido numa melhor altura a meu ver. Estamos a viver o fenómeno
retro dos anos 80.
Todos os meios artísticos estão de uma forma
ou de outra a regressar aos anos 80. Stranger Things na Netflix, Thor
Ragnarok no cinema e até na música estamos a regressar aos anos 80
onde temos cada vez mais bandas a utilizar técnicas vocais e instrumentais
dessa época, como por exemplo os Capitão Fausto.
E no meio de histórias de damas e vagabundos e
damos e vagabundas na ficção nacional aparece-nos 1986.
1986 conta-nos
a visão da atualidade de 1986 pelos olhos de um adolescente, Tiago, um típico
rapaz tímido, bastante deslocado da popularidade, que é apaixonado por uma
rapariga a Marta, a miúda gira da escola e tenta conseguir a atenção dela de
alguma maneira.
Enquanto isto acontece o pai dele, Eduardo,
crítico de cinema e comunista, está em pleno ataque de nervos com o rumo que as
eleições políticas que estão à porta,
onde tem o choque entre Freitas e Soares, estão a seguir, onde se vê na obrigação de votar em Soares.
O que lhe vale é que tem dois amigos para o
suportar estas crises na vida dele, o metaleiro Sérgio e a gótica Patrícia.
É este o setting inicial da série. Ainda vi só o
primeiro episódio Tarzan Boy e devo dar os parabéns à equipa por detrás disto
tudo.
A série está muito bem conseguida. Bons
atores, uma ótima equipa técnica, uma banda sonora que encaixa que nem uma
luva, a introdução que é uma sequência tão bem conseguida, uma narrativa que
nos prende ao ecrã e claro, muita nostalgia (pelo menos para o pessoal da
década de 80).
Acho interessantíssimo a maneira como o Markl
e os restantes escritores expõem a temática do comunismo, que na época era
muito preconceituosa, aproximando-a a uma família, não muito normal, mas dentro
da regularidade.
Os momentos de epifania do Tiago (quando ele
faz filmes na mente dele, por assim dizer), são dos pontos altos desta série. A
maneira de como parece que é um VHS a dar, a maneira como os atores estão
vestidos, o Chuck Norris... enfim... momentos deliciosos para os meus olhos.
A nostalgia, entra em demasia em certos
aspetos a meu ver (a mais notória a referência um tanto forçada à famosa bota Clotilde),
mas eu não vivi nessa época e, se me dizem que era disto que o pessoal falava
na escola, eu aceito.
Este episódio termina num mini cliff
hanger e estou ansioso para ver o rumo da história, (e sim, eu sei que
posso ver tudo já online, mas vá lá, isto tem que ser apreciado durante uns
tempos porque não sabemos quando uma série deste calibre irá aparecer na
televisão portuguesa novamente).
Portanto se ainda não viram e têm uma certa curiosidade com a série, por
favor vejam, pois agora já sabem o que estão a perder.
Esta foi simplesmente a minha humilde opinião,
Até à próxima,
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